terça-feira, 8 de julho de 2008

Paixão antiga faz nascer time de Rugby em Vitória


Grupo de pessoas de várias idades aprende a jogar e a conhecer o esporte

Um amor verdadeiro permanece vivo para sempre. Mesmo que a distância apareça como empecilho, o levando para caminhos bem distantes, ele perdura. Nesse caso, o amor pelo esporte rompeu as fronteiras da América do Sul, e um sentimento que nasceu no Chile, fez com que o improvável acontecesse: um time de Rugby fosse criado em Vitória.

Difícil imaginar que a história de um time de Rugby do Espírito Santo tenha começado tão longe. Mas foi com o objetivo de não abandonar sua paixão de infância, e continuar praticando o esporte mesmo em um país em que a maioria das pessoas o desconhece, que o chileno Manuel Schiaffino, 46, fundou o Vitória Rugby no dia 21 de Abril de 2007.

Mas se engana quem pensa que foi fácil arranjar pessoas parar formar o time. Para iniciar a idéia, Schiaffino teve que procurar a Confederação Brasileira de Rugby, atrás de contatos de alguém interessado em jogar no Estado. “Liguei pra Confederação, e eles passaram um contato de um rapaz de Guarapari, a partir daí, comecei a colocar a idéia de criar o time em prática”, explica.

O grupo começou a se formar, mas as dificuldades de se praticar Rugby no Brasil, logo apareceriam, e Schiaffino estava consciente delas. Os locais para treinar surgiram como obstáculo, já que por motivos óbvios, utilizar campo no Brasil, só se for para jogar com a bola no pé. Então, sem muitas alternativas, o Vitória Rugby realizou seus primeiros treinos na Praia de Camburi, o que acabou ajudando na divulgação do time. “A idéia de treinar no fim de tarde e na praia foi minha. Por um motivo fundamental, é o horário em que a maioria das pessoas dos bairros Jardim da Penha, Mata da Praia, entre outros, vão à praia fazer caminhada. É fundamental que as pessoas ao passar observem, perguntem, e posteriormente divulguem”, afirma Schiaffino.

Divulgação. Após reunir um pequeno grupo de pessoas para treinar, o objetivo do Vitória Rugby foi obter o mais rápido possível o número de jogadores suficientes para competir. Para isso, os integrantes da equipe criaram anúncios e colocaram em algumas academias, além de divulgar pelo Orkut, criando a comunidade do time.

Meses depois, já se via o resultado desse grande esforço, o número de pessoas que procuravam o Vitória Rugby só crescia. Como brinca o técnico Schiaffino, a maioria eram meninos que apareciam para conhecer, ou porque a novela das seis estava chata, ou porque não tinham churrasco para ir, ou porque a namorada estava no salão, ou porque os planetas se alinharam, mas enfim, o importante era que apareciam.

Mas nem todos seguiam essa linha. Alguns já conheciam o esporte. Assistiam aos jogos pela TV e tinham uma imensa vontade de praticar Rugby, como o estudante de Administração, Rodrigo Storni, 20, que viu no Vitória Rugby a oportunidade de voltar a jogar. “Já conhecia um pouco do esporte, mas aprendi a gostar mesmo quando fui estudar na Austrália, e quando soube do time aqui de Vitória, logo procurei me informar para começar a treinar”, disse.

Competição. Devido a falta de patrocínio a equipe compete, esporadicamente, mas no mês de abril, o time participou do Itacoatiara Beach Rugby, no Rio de Janeiro. O campeonato foi disputado por oito equipes, e o Vitória Rugby se saiu bem, ficando com a quarta colocação do torneio, em sua primeira experiência fora do Estado.

O Rugby, por ser um esporte de muito contato físico, assusta as pessoas que assistem ao jogo pela primeira vez. Por ter muito choque, o esporte é rotulado por muitos como violento, o que deixa indignado quem pratica. Para o técnico Schiaffino, falar que o Rugby é um esporte violento, tem que primeiro definir o que é violência. “É um esporte com atrito físico constante, como outros esportes coletivos tais como futebol, basquete e handebol. Para mim, violência no esporte passa por você violar as regras, um carrinho no futebol, por exemplo, é proibido, e o atleta sabe que pode quebrar a perna do adversário ou provocar uma grave lesão, contudo, as faltas deste tipo são freqüentes durante um jogo”, afirma.

A imagem que o jogo passa para os leigos, não revela, por exemplo, o objetivo de formação do esporte. Segundo Manuel Schiaffino, o Rugby educa, ensinando à pessoa a ser disciplinada, a respeitar normas e regras do juiz, dos adversários e dos companheiros. “Violência é ir a um jogo de futebol e insultar o juiz ou os adversários gratuitamente”, conclui.

Apesar do constante crescimento da equipe, que a cada dia ganha novos adeptos, para Schiaffino, despertar o interesse das crianças é difícil, exatamente pelo Rugby ser associado a algo violento, e os pais não terem a preocupação de se informar melhor. “Muito pais não querem que seus filhos joguem rugby, e isso sem saber nem do que se trata. Não procuram ir aos treinos e conversar com o treinador. Preferem que seu filho fique em casa jogando videogame. É mais cômodo”, afirma.

Porém, mesmo com toda essa resistência, a idéia do Vitória Rugby é formar jogadores desde cedo para que se crie dessa forma uma afetividade maior com o esporte, podendo assim despertar em crianças, a mesma paixão pelo Rugby que rompeu as fronteiras entre Chile e Brasil.




Universitários impulsionam o Rugby no país

Pouca gente sabe, mas o mesmo cara que trouxe a bola redonda e tornou o Brasil o país do futebol, foi também quem organizou em 1895, o primeiro time de Rugby Brasileiro. Isso mesmo, quem pensou Charles Miller, acertou. Desde então o esporte começou a ser praticado regularmente no Brasil, mas com pouca divulgação.

Somente em 1963 foi criada a primeira entidade para organizar e dirigir o Rugby brasileiro, a União de Rugby do Brasil, substituída nove anos mais tarde pela Associação Brasileira de Rugby (ABR), que completa 36 anos, em 2008. A partir da década de 1970, o esporte começou a ser muito praticado dentro das Universidades. Uma tendência que permanece até hoje.

A Universidade Estadual de São Paulo (USP), por exemplo, possui mais de 200 praticantes do esporte, sendo que sete das 36 unidades da universidade possuem times completos, algo impensável até poucos anos. "Hoje, a universidade é o lugar em que o Rugby é mais praticado no país, sem sombra de dúvidas", disse o técnico do Vitória Rugby, Manuel Schiaffino.

Segundo dados da ABR, aproximadamente três mil pessoas praticam Rugby no Brasil, em nível adulto. Existem também as seleções, que contam com atletas amadores que se reúnem pelo amor ao esporte e vontade de defender o país. Apesar da falta de apoio, as seleções têm disputado competições em nível continental e começam a apresentar bons resultados, principalmente, a feminina atual tetracampeã sul-americana.


por Igor Alexandre Gonçalves



Um comentário:

O + XaTu Da InTerNê disse...

"ou porque os planetas se alinharam" eh foda rs

Rodrigo Boi entrevistado e tudo, 1a qualidade =D Faltou somente Fernando El Loco mas...

Enfim parabéns ao Schiaffino e ao grande Vitória Rugby.

Os treinos vêm ocorrendo em quais dias e horários? Na Pedra da Cebola, Mata da Praia, Vitória... ?